domingo, 15 de fevereiro de 2009

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E INTERIORIZAÇÃO DA UFAM

Luiz de Oliveira Carvalho

Resumo

Este artigo aprofunda a distinção entre a função extensiva da ação universitária e o processo de interiorização da Universidade, cumprindo esta o seu desiderato como instituição acadêmica amazônica ex excelência. Busca, ainda, no âmbito dessa dialética, desvencilhar das armadilhas discursivas e intelectuais o conceito de universidade. Porque é somente no intercurso do debate sobre a UFAM que nós queremos que essas ações universitárias tornar-se-ão esclarecidas e eficazes.
1. As diretrizes programáticas das Universidades contemporâneas compõem-se de um tripé conceitual que se estende desde o ensino de qualidade – passando por um programa de extensão universitária amplo, multilateral e envolvente – até a pesquisa e pós-graduação implementadas a fim de atender àquelas demandas centrais de fundo estatutário e regimental.
A Chapa “a UFAM que nós queremos”, liderada pelo Prof. Dr. Sylvio Puga, encampa essas diretrizes e princípios que para os seus membros é praticamente uma lei. Nesse sentido, ela elaborou um esboço programático dessas diretrizes e princípios de extensão universitária. Todavia, torna-se – nesse ponto – necessário diferenciar os conceitos de extensão universitária e interiorização da UFAM.
2. A interiorização da Universidade no Estado do Amazonas é, com efeito, um processo que se iniciou recentemente. A fonte ideológica e o espectro conceitual da noção de interiorização são aparentemente esdrúxulos. Considerando que o Estado do Amazonas teve sempre um tratamento refratário por parte das autoridades públicas federais ao longo da história republicana do País, ocorreu, recentemente, um fato notadamente intrigante durante o regime militar que se instalou no poder a partir de abril de 1964.
Trata-se, de fato, do componente ideológico de propaganda implementada pelo Governo militar e pautada pela idéia de ocupar a Amazônia para não deixá-la exposta à cobiça internacional e, especialmente, ao risco do “perigo vermelho”.
O lema desta campanha ufanista e chauvinista era vazado no dístico seguinte: “Integrar para não entregar”.
Demandado pela diretriz constitucional do Estado democrático de direito, tenho o dever de reconhecer – mesmo no âmbito intelectual – que a Universidade do Amazonas – UA, criada como Fundação Universidade do Amazonas – FUA incorporou desde então essa diretriz programática de suas ações e de seu ser.
Não se trata, seguramente, mais de efetuar essa diretriz sob os auspícios da repressão e do medo. Também não se trata de realizá-la sob o horizonte de pavor ante a cobiça internacional.
Em nosso tempo, o contexto sócio-político-cultural é indiscutivelmente diferente. Vivemos notadamente sob os auspícios da democracia. Democracia que é definida pelo texto constitucional como sendo um campo de experiência regulado decididamente por normas jurídicas e por acordos elaborados de modo politicamente e culturalmente civilizados.
Nesse sentido, a história da gestão universitária da UFAM é marcada por uma orientação dirigida para a missão que lhe cabe como uma instituição acadêmica que deve estender as suas ações de ensino, pesquisa e extensão a todo o hinterland amazônico.
No decurso de sua jovem existência foi sempre assim. De fato, ocorreu – na gestão do Reitor Roberto Vieira – a primeira iniciativa no sentido de levar a UA a ocupar suas funções propriamente interiorizadoras. Todavia, devo reconhecer que o passo efetivo nessa direção foi, com efeito, dado na gestão do Reitor Marcus Barros.
Desde então, os reitores subsequentes não deixaram de cumprir este desiderato. Uns mais. Outros menos. Mas todos fizeram a sua parte. Nem podia ser diferente. Nem pode. Sob pena de a Universidade se descaracterizar por descumprimento de sua missão.
Nesses termos, a interiorização da UFAM no hinterland amazônico tornou-se – a despeito da má vontade que virou moda entre aqueles que desdenham a sua origem político-ideológica – o apanágio de suas ações universitárias e de sua função acadêmica. A interiorização da UFAM constitui, pois, a diretriz genuína de seu ser institucional. Como uma Academia de perfil amazônico seu papel cognoscitivo consiste em produzir o saber e conhecimento do ecossistema sócio-ambiental em que ela está inserida.
Além disso, ela deve cumprir seu papel extensivo de informar e comunicar à sociedade a que pertence e seus segmentos esse saber e conhecimento que são produzidos pelas suas atividades de pesquisa.
Cabe, nesse sentido, às unidades de ponta, isto é, aos Departamentos Acadêmicos a tarefa de efetuar essa diretriz. Em sentido estrito, a interiorização da UFAM consiste em efetuar – no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão – esse processo de internalização social das ações universitárias e de oferta de seus produtos artísticos, científicos e educacionais visando qualificar continuamente e permanentemente o ambiente amazônico e a vida nesse ecossistema mundial.
Podemos, não obstante, ampliar o campo semântico do conceito de interiorização até a compreensão dele no sentido de incluir nele a oferta dos meios que possibilitam a sua implementação nos municípios, tais como, criação institucional de polos universitários, construção de áreas de lazer e esporte, construção de unidades acadêmicas nesses polos, etc.
A interiorização da UFAM configura assim uma bandeira desfraldada a tremular nos céus da Amazônia como se estivesse a assinalar uma tarefa permanente a ser cumprida pela Academia que a adotou e por ela foi adotada. Nesse contexto, um dos Departamentos Acadêmicos da UFAM pioneiros na execução dessa tarefa de interiorizar a Universidade foi o Departamento de Filosofia.
Tudo começou em 1991. Ocorreu que o Prefeito de São Gabriel, nas cabeceiras do Rio Negro, solicitou, à época, ao então mandatário do país, o Presidente José Sarney, seu conterrâneo – quando da visita deste àquele município – que levasse a Universidade para lá. O Presidente perguntou-lhe então que curso universitário ele gostaria que fosse instalado naquele município. O Prefeito prontamente lhe respondeu: o Curso de Filosofia.
Os procedimentos institucionais e administrativo-acadêmicos foram efetuados e para lá foi então levada a Licenciatura em Filosofia.
Desde então essa licenciatura tem-se expandido pelos municípios do Estado do Amazonas. Deste modo, ela já foi, nesse ínterim, realizada também em Tabatinga e Benjamin Constant no Alto Solimões, em Coari no Médio Solimões e em Parintins no Baixo Amazonas.
Outros Departamentos Acadêmicos também já fizeram a sua parte nessa tarefa de interiorizar a UFAM no hinterland amazônico. Outros ainda estão levando essa bandeira da instituição aos municípios do Estado do Amazonas.
Afinal, o perfil amazônico da UFAM torna o processo de interiorização das ações universitárias um imperativo administrativo-institucional de toda gestão universitária escolhida democraticamente.
A Chapa “a UFAM que nós queremos”, liderada pelo Prof. Dr. Sylvio Puga, afirma o seu propósito inquebrantável de cumprir efetivamente esse preceito processual do ser institucional que legitima a UFAM.
3. A extensão universitária – distintamente da interiorização da UFAM que é uma diretriz programática da missão institucional de sua existência acadêmica e de seu ser – é, por seu turno, um pilar estatutário de sua concepção e uma demanda regimental pró-ativa de consecução da ação universitária no sentido de conectar as atividades fundamentais prescritas em seu estatuto e regimento com as demandas da sociedade em que está inserida.
A UFAM que nós queremos quer resgatar este conceito elementar e constitutivo do Estatuto e Regimento Geral da UFAM. Porque nela apostamos nossa competência e nosso labor acadêmicos, queremos resgatar a integralidade deste conceito de extensão universitária.
Além disso, queremos também submetê-lo a um fórum de questionamentos públicos a fim de esclarecê-lo. Porque acreditamos, igualmente, que o Prof. Dr. Sylvio Puga fará uma gestão eficaz a fim de cumprir este desiderato estatutário e regimental de ação universitária da UFAM que nós queremos.
Nesse sentido, a Chapa “a UFAM que nós queremos” apresenta, pois, ao juízo democrático dos segmentos docente, discente e técnico-administrativo – para fins de consulta preferencial e escolha do próximo Reitor da UFAM – uma proposta de extensão universitária contendo alguns dos seus componentes essenciais.
Esta proposta enfatiza – singularmente no âmbito da extensão universitária – a necessidade de implementar um programa de ação extensiva da UFAM que fortaleça e aproxime efetivamente os laços acadêmico-administrativos entre as Unidades Acadêmicas da sede com a sociedade em geral e entre os Polos Universitários e seus segmentos comunitários correlatos. Além disso, ela propõe incrementar as relações interpessoais entre professores, alunos e técnico-administrativos na busca de aproximar a UFAM dos segmentos sociais e econômicos que a sustentam. Porque urge a necessidade de resgatar a essência da atividade extensiva da UFAM.
Com efeito, esta proposta objetiva restaurar a função peculiar da extensão universitária com base na diretriz que lhe é própria – inclusive estatutária e regimentalmente – que é a de orientar interativamente a sociedade e seus segmentos mediante um programa de informação e comunicação sociais do saber e conhecimento que são produzidos no mundo acadêmico na forma de contrapartida à sociedade em que está inserida e que a sustenta.
A oferta de produtos e serviços oferecidos tradicionalmente pela Universidade está defasada estruturalmente e academicamente. Como um ofício de elite intelectual que caracteriza a dinâmica desses serviços e produtos extensivos universitários, o papel da extensão universitária não pode mais se assentar precisamente na antiga divisão do saber e conhecimento em áreas estanques, tais como, Humanas, Exatas e Biológicas.
Em nosso tempo, os novos problemas que se impõem à pesquisa e as emergências sociais que têm aflorado requerem a implementação de novos paradigmas a fim de investigar a complexa objetividade que caracteriza o ecossistema amazônico e seu ambiente. Sob esse prisma, a ordem cognoscitiva e, precisamente, a atividade extensiva precisam ser reguladas por meio de critérios lógicos e metodológicos, tais como, diversidade, pluralidade, multiplicidade, interdisciplinaridade, multilateralidade, multidisciplinaridade, transitoriedade, transfuncionalidade, transdisciplinaridade, transversalidade e outros. Mesmo porque o traço distintivo e genuíno da UFAM é o seu perfil amazônico.
Nesse contexto, a oferta de serviços e produtos extensivos universitários deve, sobremodo, informar e comunicar especialmente o saber e conhecimento produzidos na UFAM na perspectiva sócio-ambiental da Amazônia e seu ambiente. Com efeito, esse saber e conhecimento devem ser produzidos a partir de demandas sociais, econômicas, culturais e educacionais e devolvidas em forma de produtos acadêmicos.
A título de sugestão a fim de formular o Programa de Ação da Extensão Universitária da UFAM que nós queremos, apresentamos alguns tópicos, temas e links a fim de serem tratados pelas ações extensivas conforme os novos paradigmas anteriormente mencionados.
Eis a relação de alguns deles em ordem alfabética: Antropologia de grupos tribais e formação dos povos amazônicos; Aquecimento global e seus efeitos ecológicos no ecossistema amazônico; Áreas ecologicamente protegidas pelo Poder Público e seu inventário; Arte do ventriloquismo em Manaus; Bandas de rock amazonenses e mercado fonográfico; Barragens de igarapés urbanos e seus efeitos ambientais; Biopirataria na Amazônia e pioneirismo de Wickham no látex; Ciclo da Borracha no Amazonas e seus efeitos sócio-culturais; Conquista do Amazonas e reconstituição de viagens de exploradores e navegadores; Contaminação do sistema aquífero e escassez de água para consumo humano; Corredores ecológicos amazônicos e “movimento Leste-Oeste” de devastação; Crise econômico-financeira atual e reorganização do sistema econômico mundial; Culinária local e suas receitas genuínas; Desmatamento da flora ciliar do Madeira e aparecimento de bancos de areia; Desmatamento florestal e invasão do Sul do Amazonas; Desmatamento urbano de Manaus e endemias; Economia regional e potencialidade dos produtos florestais da Amazônia; Ecoturismo amazônico e seus parques; Educação física saudável e regulamentação das academias clandestinas; Estações turísticas urbanas e bares da cidade; Evolução do folclore regional e “Boi de Parintins”; Festival Amazonas de Ópera e sua importância cultural; Filosofia ambiental da Amazônia e problemas ecológicos; Folclore turístico e festas temáticas interioranas; Fontes de energia alternativas e biomassa; Fontes de energia radioativas na Amazônia e projetos de exploração e beneficiamento dessa matéria prima; Gestão municipal e espaço público; História da Província do Amazonas e luta pela emancipação do Estado; História da Suframa e “Memorial da Amazônia”; Importância do IMT e sua história; Interação entre ONG,s e missionários religiosos e tribos indígenas; Internacionalização da Amazônia e seus mecanismos de efetuação; Lei de Patente e pirataria de produtos florestais; Línguas indígenas amazônicas e seu inventário; Literatura amazônica e seus escritores; Místicas religiosas dos povos da floresta e Santo Daime; Museu amazônico e programa de exposição de obras; Pesquisas sobre o ecossistema amazônico e expedições científicas à região amazônica; Polo petrolífero de Coari e gasoduto Coari-Manaus; Processo de migração na Amazônia e formação da sociedade urbana; Projetos de proteção às espécies em risco de extinção e seu inventário; Rádios comunitárias e televisões universitárias; Rede de comunicações eletroeletrônicas e internet mania; Regularização fundiária na Amazônia e propostas de criação de órgãos reguladores; Resíduos de esgoto e poluição de igarapés; Romance-Folhetim amazonense e Jornais-Pasquim atuais; Saúde coletiva e rede hospitalar; Saúde indígena e proteção constitucional do Estado; Segurança pública e aumento de criminalidade; Sistema de abastecimento de água e saúde coletiva; Sistema viário municipal e fluxo de trânsito; Soberania brasileira na Amazônia e papel do Estado; Superlotação prisional e direitos humanos; Supermercado, consumismo e manias urbanas; Supervalorização de terras desapropriadas na Amazônia e reforma agrária; Transporte coletivo e prestação de serviço público; Turismo histórico em Manaus; Utopias e ideologias ecossociais e sócio-ambientais; Zoneamento econômico-ecológico da Amazônia e técnicas de fotogrametria.
Essas áreas e temas sugeridos para o Programa de Ação da Extensão Universitária da UFAM que nós queremos, representa apenas uma constelação de tópicos e links correlacionados com a necessidade de produção de conhecimentos acadêmicos fundamentados em saberes e práticas vivenciadas pelos grupos sociais no seio dos diferentes segmentos comunitários.
4. É importante considerar que se faz notadamente relevante enfatizar, com efeito, a relação entre a extensão universitária e a pesquisa acadêmica. Porque todos esses temas e tópicos confluem em uma demanda de professores e alunos para conjuntamente se inserirem nesses segmentos sociais, comunitários e culturais a fim de produzirem o conhecimento dessas temáticas e devolvê-las – por meio do Programa de Ação da Extensão da UFAM – em termos de informação e comunicação sociais desses saberes e conhecimentos.
5. Nesse sentido, torna-se relevante - para fins de esclarecimento da comunidade universitária e da sociedade em geral – pontuar alguns aspectos que constituem o conceito de extensão universitária da UFAM que nós queremos.
Primeiramente, é preciso esclarecer que o papel da extensão universitária é o de proporcionar – por meio de um Programa de Extensão Universitária consistente programaticamente e eficaz pragmaticamente – a articulação daquilo que as comunidades e segmentos sociais produzem como sendo seus saberes singulares com os produtos acadêmicos que a Universidade elabora. Como desfecho desta interação universitária, ela devolve extensivamente esses artigos filosóficos, científicos, artísticos, tecnológicos e educacionais.
A extensão universitária constitui, pois, o correio vivo responsável por levar – mediante o Programa de Extensão Universitária – os novos conhecimentos e técnicas que devem ser permanentemente produzidos pela Universidade junto às comunidades e segmentos sociais e culturais à sociedade em geral como sendo a sua contrapartida a quem a sustenta e em que ela está inserida.
Esta é, seguramente, a diretriz mais consistente e sustentável da atividade extensiva capaz de orientar as suas ações como pilar estatutário e regimental da Academia.
Em artigo transcrito em “A Crítica”, 25/11/85, o Professor Demerval Saviani menciona que a extensão universitária é considerada, nos meios acadêmicos e intelectuais, como sendo a “prima pobre” da Universidade em relação ao ensino e à pesquisa. Ora, sabemos que dentre as três funções essenciais da UFAM, a extensão universitária é, de fato, a mais jovem. Mesmo porque o seu conceito sendo um produto novo derivado institucionalmente do Estatuto e Regimento Geral requer uma atenção especial em termos de reflexão sobre as suas bases conceituais e de planejamento a fim de garantir a sua eficiência.
A UFAM que nós queremos considera a extensão universitária – não obstante sua temporalidade conceitual e institucional seja recente – como tendo relevância equivalente às outras funções acadêmicas. Metaforicamente, ensino, pesquisa e extensão são irmãos gêmeos institucionais. Seguramente, não são, no mesmo tom, irmãos univitelinos.
“Prima pobre” é, pois, uma expressão academicamente infeliz. Expressão que somente é usada por aqueles que ou desconhecem as bases teóricas e programáticas da extensão universitária ou fazem uso dela com interesse meramente depreciativo sem nenhuma afeição pela UFAM.
Essa expressão tem, não obstante, um sentido preciso que é delimitado pelos Planos Orçamentários da UFAM. Trata-se, pois, da decisão distributiva da verba de custeio para a manutenção de instalações e para o incremento das atividades acadêmicas que envolvem ensino, pesquisa e extensão.
Decerto, o aporte que cabe à extensão universitária não é razão suficiente capaz de justificar o uso depreciativo daquela tosca expressão.
A riqueza da extensão universitária é de outra ordem. Consiste em dois pontos essenciais. Um consiste em planejar e prever a exequibilidade corrente das atividades extensivas conforme os tópicos, temas e links e os segmentos sociais e comunitários correlativos dessas atividades definidas programaticamente.
Outro consiste em tornar eficaz o Programa de Ação da Extensão Universitária na busca de devolver à sociedade em que a Universidade está inserida os produtos e serviços que são frutos dessa relação.
O conceito de extensão universitária se sustenta, enfim, na idéia de que ela é uma atividade constante e permanente da UFAM que nós queremos e na determinação de buscar a sua realização integral.
6. A relação da extensão universitária com o ensino acadêmico representa ainda outro aspecto essencial. Seu papel consiste assim em ampliar a função da ação docente e da aprendizagem. Ao informar e comunicar saberes e conhecimentos às comunidades e segmentos sociais, a extensão universitária promove a elevação do nível cultural da sociedade em geral. Por definição, este papel constitui o elemento essencial de sua função no âmbito da Universidade.
O seu papel sócio-cultural evita, assim, o solipsismo acadêmico que consiste na circunscrição das atividades de ensino e pesquisa exclusivamente e restritamente no âmbito interno da Academia.
Nesse sentido, ela proporciona uma ampliação do riquíssimo universo das relações docente-discente, docente-comunidade e discente-comunidade. Ela produz, ao fim e ao cabo, um alargamento do horizonte conceitual e pró-ativo do ensino e das relações efetivas entre professores e alunos, professores e comunitários e alunos e comunitários.
Concebida nesses termos, a extensão universitária torna-se, pois, uma fonte de orientação para a pesquisa e, por conseguinte, para o ensino no sentido de coibir a transformação da Universidade em uma agência de experimentos sociais, científicos e culturais a serviço de interesses exógenos à sociedade em ela está inserida e por quem ela é sustentada. Porque os rumos do desenvolvimento social e econômico da sociedade em geral são decisivamente delineados pela Universidade e fortalecidos pelos produtos filosóficos, científicos, artísticos e educacionais que ela engendra e oferece.
7. Os tempos de subserviência aos modelos internacionais já passou. O nosso tempo é uma época de liberdade e criação. Valores esses que devem ser alcançados com denodo pela Academia a fim de fazer valer a autonomia de suas ações e a determinação de cumprir com eficácia a sua missão.
8. Nada de xenofobismo. Essa epidemia ideológica o Brasil também já a superou. A questão emergente que se apresenta como demanda para as Universidades que queiram enfatizar o seu perfil amazônico consiste em proporcionar às populações amazônicas os instrumentos intelectuais e técnicos que permitam esses grupos sociais se apropriarem dos espaços sócio-ambientais em que existem e produzirem neles as condições necessárias ao seu desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental.
9. Cooperação sim. A UFAM que nós queremos é uma universidade cujo foco luminoso derrama amplamente sobre cada um o desejo inefável de liberdade criadora, de inteligência produtiva e de ação pró-ativa a fim de informar, comunicar e educar a quem interessar os produtos e serviços acadêmicos oriundos de suas atividades universitárias.
10. A extensão universitária integra-se nesse contexto amplo das ações que a UFAM que nós queremos visa desenvolver. O Programa de Ação da Extensão Universitária da UFAM deve, pois, ser formulado conforme a gradiente dessas demandas originadas na sociedade em geral e pontuadas em seus segmentos sociais. Deve assim atender – na composição dos temas, tópicos e links a serem implementados pelas atividades extensivas da UFAM que nós queremos – a esse chamado sócio-acadêmico de forma propositiva e pró-ativa.
11. Conforme o amplo espectro do papel da Universidade, a responsabilidade da UFAM consiste, nesses termos, em buscar resolver os problemas que afetam a sociedade em geral oferecendo alternativas de resolução teórica e técnica. Essas demandas correlacionam-se com as áreas filosóficas, científicas, artísticas e educacionais e devem, pois, ser operadas nos âmbitos do ensino, da pesquisa e da extensão universitários.
12. Um lema bem expressivo para o Programa de Ação da Extensão Universitária da UFAM consiste no dístico seguinte: “A sociedade vai à UFAM. A UFAM vai à sociedade”.
Como assim? A sociedade vai à Universidade por meio do ingresso nela por meio do vestibular, por meio dos convênios que as empresas privadas fazem com a UFAM e por meio dos tributos que os contribuintes pagam e que custeiam em forma pública as atividades acadêmicas.
De outro modo, a Universidade vai à sociedade por meio da oferta de serviços e produtos acadêmicos efetuados no âmbito do ensino superior, da pesquisa acadêmica e da extensão universitária.
A fim de realizar essa tarefa fundamental da UFAM que nós queremos, o Programa de Ação da Extensão Universitária deve ser composto de projetos de extensão que abranjam as grandes áreas de saber e conhecimento, desdobradas especificamente em temas, tópicos e links oriundos de demandas da sociedade em geral e seus segmentos sociais.
13. A extensão universitária que a UFAM que nós queremos visa implementar não pode ter uma diretriz viciada por experiências superadas. Ela não deve ser meramente assistencialista. Não deve também ser orientada por uma visão ciclópica.
Ela deve, ao contrário, ser concebida sob um viés de compromisso da UFAM que nós queremos com a sociedade amazonense em que ela está inserida e que a sustenta.
14. Em artigo publicado em “A Crítica”, 25/11/85, anteriormente mencionado, o Professor Demerval Saviani considera que “é ao contato com os problemas efetivos da sociedade que vai permitir à universidade transformar os objetos de suas pesquisas em algo relevante para a sociedade e adequar o ensino às necessidades da sociedade”. Porque é somente através do contato efetivo entre Universidade e sociedade que o saber e conhecimento pertinentes aos problemas sociais, econômicos e educacionais podem ser produzidos adequadamente.
15. É, pois, uma nova concepção de extensão universitária que a Chapa “a UFAM que nós queremos” visa implementar a favor de uma relação profícua entre a UFAM e a sociedade amazonense. É igualmente essa concepção de extensão universitária que deve pautar todas as atividades extensivas de que se deve compor o Programa de Ação da Extensão Universitária da UFAM.
16. Toda a ação universitária deve, com efeito, ser direcionada à luz desse preceito programático. Por conseguinte, o Programa de Ação da Extensão Universitária da UFAM deve também segui-lo integralmente. Nesse sentido, ele terá a sua atenção totalmente voltada para a efetuação de suas tarefas extensivas em contato com a sede e com os polos universitários. Estes têm uma função singular no âmbito da extensão universitária. Eles devem funcionar como mediadores na relação imperativa que se deve estabelecer entre a UFAM e a sociedade em geral e seus segmentos sociais e econômicos.
17. Parece interessante mencionar, por fim, uma teoria do filósofo francês, Gaston Bachelard que assevera a tese de que todo o saber e conhecimento acadêmico não são senão modos de senso comum aperfeiçoado.
18. O contato efetivo entre os saberes tradicionais e comunitários e a energia da ação universitária é, com efeito, o fator essencial decisivo para galvanizar a Universidade em direção à produção de artigos filosófico, científicos, artísticos e educacionais. Deste modo, a sociedade e seus segmentos podem receber efetivamente as ações universitárias nas formas de ensino, de pesquisa e de extensão como a contrapartida daquilo que ela fornece à Universidade.
A extensão universitária constitui, nesse sentido, um mecanismo de instrumentação racional e emancipadora da sociedade em geral e uma das ferramentas de efetivação da autonomia universitária da UFAM que nós queremos.
19. Este é o sentimento expansivo que todos aqueles que reconhecem a relevância do papel da UFAM no desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental da Amazônia cultivam.
20. Conclamamos, pois, a todos os simpatizantes da candidatura do Prof. Dr. Sylvio Puga, a Reitor da UFAM, a discutir conosco as formas de realização da missão da Universidade e os modos de efetuação de suas funções de ensino pesquisa e extensão. Porque somente pelo debate de idéias e programas é que “a UFAM que nós queremos” tornar-se-á uma realidade.
Até breve.
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